“É preciso levar a alma à medicina”

Marlene Nobre

Em 1864, o eminente educador e cientista Denizard Rivail, no esplendor de sua maturidade, já assumindo àquela altura o pseudônimo de Allan Kardec, propôs uma aliança entre a ciência e a religião, escrevendo que elas “são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de ideias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância”(“O Evangelho segundo o Espiritismo”, 1, 8).
 
Estas palavras parecem ganhar um ar profético quando, observando-se a ciência moderna, verifica-se que respeitáveis pesquisadores do mundo todo, como Harold Koening, Fritjof Capra e Dean Hammer, tentam fazer uma ligação entre as descobertas científicas e os ensinos religiosos. O Dr. Amit Goswami, por exemplo, elucida que “enquanto a tendência geral da ciência, desde o século XVII, consistiu em manter um foco material, nas últimas décadas do século XX, a ciência começou a explorar a arena espiritual, antes marginalizada” (em seu livro “A física da alma”).
 
Neste sentido, o evangelho de Jesus se apresenta, nestes tempos, ainda mais glorioso, rico que é de ensinamentos oportunos para a realização de uma ciência baseada em uma ética sustentável nos refolhos da paz de consciência.
Inspirados, pois, nas palavras de Allan Kardec, tentando unir a ética do amor ensinada por Jesus às descobertas científicas modernas, um grupo de médicos resolveu fundar um espaço no qual isto fosse possível. Nasceu, assim, em 1995, a Associação Médico-Espírita do Brasil (AME-Brasil), já preludiada pela associação de São Paulo, que existia desde 1968, e tendo como grandes pioneiros os médicos Adolfo Bezerra de Menezes e Inácio Ferreira.
Indo, portanto, ao encontro desta invulgar iniciativa da AME-Brasil, às 9 horas do dia 30 de novembro de 2008, na sede do Grupo Espírita Francisco de Assis, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife, foi fundada a Associação Médico-Espírita do Estado de Pernambuco (AME-EPE).
 
A reunião foi memorável e, superando as expectativas da equipe que a organizou, contou com a participação de cerca de 70 pessoas, na sua maioria médicos, mas também estudantes e profissionais de áreas relacionadas.
Assim, compartilhando estas informações com os caros leitores, trazemos abaixo uma breve entrevista com a Dra. Rozane Maria Rocha Nicéas, médica clínica, primeira presidenta e principal organizadora da fundação da instituição, na qual ela explica um pouco mais sobre este processo e os projetos da nascente AME-EPE.

Como surgiu a ideia da fundação da AME?


Surgiu da necessidade observada pela AME-Brasil, através de sua presidente, a Dra. Marlene Nobre, de dar continuidade em nosso Estado ao movimento anteriormente existente.

Conte-nos como foi a ajuda da AME-Brasil, nas pessoas de Dra. Marlene Nobre e de Dr. Décio Iandoli Jr., neste processo.

No ano de 2008, por ocasião do III SIMESPE (Simpósio de Estudos e Práticas Espíritas em Pernambuco), a Dra. Marlene Nobre e o Dr. Décio Iandoli eram convidados expositores do evento. Através de contato com a comissão organizadora do Evento, a Dra. Marlene foi liberada para uma palestra no Grupo Espírita Francisco de Assis; nessa ocasião, a Dra. Marlene compareceu acompanhada do Dr. Décio, e, como gentilmente o Grupo Espírita abriu espaço para uma reunião junto a alguns médicos trabalhadores da casa, recebemos todo o incentivo e esclarecimento necessários, por parte de ambos, para que déssemos o passo inicial para a fundação da Associação. À ocasião, encontravam-se presentes e convidados de Dra. Marlene o acadêmico de medicina Leonardo Machado (NEIL) e o psicólogo Silvio Romero, abrindo espaço para a formação de departamentos na associação.

Quais são os objetivos dela?

Os objetivos da AME-EPE constam com clareza no Estatuto da Associação. Entre eles, podemos citar: estudo da Doutrina Espírita, buscando a integração do conhecimento médico-espírita; promover e incentivar a prática dos princípios cristãos no exercício da medicina e demais áreas de saúde; organizar eventos culturais e científicos com o objetivo de divulgar e demonstrar a espiritualidade na saúde física e mental.

Como está estruturada a AME-EPE? Quais são as atividades?

A AME-EPE consta de uma diretoria composta de presidente e vice, primeira e segunda secretárias, primeiro e segundo tesoureiros, além de um conselho fiscal com três membros e dois suplentes, eleitos na Assembleia Geral de fundação, que ocorreu no dia 30 de novembro 2008. No momento, contamos com um quadro de 68 associados.
As reuniões de estudo e da diretoria têm ocorrido mensalmente. Vamos caminhando devagar com a proposta de nos firmarmos numa base sólida para desenvolvimento de estudos e realizações concretas, dentro de nossos objetivos, integrada às demais AMEs do país.

Quais são os projetos futuros?

Como somos uma Associação recém-formada, estamos crescendo para a idealização e concretização dos projetos, em busca dos objetivos anteriormente citados.

Fazendo a coisa certa, no momento certo.